ÁREA PLANTADA DE ALGODÃO NO BRASIL CAI DEVIDO À ALTA NOS CUSTOS E AO AUMENTO DOS ESTOQUES MUNDIAIS


Marcelo Lara

A área de algodão no Brasil vai cair de 1,4 milhão de hectares para 980 mil nesta safra 2012/2013. Além do custo por hectare que pulou de R$ 4,5 mil para R$ 5,2 mil, plantar soja e milho é a opção com lucratividade maior e risco menor. Em Minas Gerais, a queda no plantio é de 35%. As lideranças do setor estão preocupadas com o aumento no estoque mundial do algodão, que pode pressionar ainda mais os preços em 2013.
Em uma lavoura de Minas Gerais, o algodão está com apenas 30 dias, no inicio do ciclo vegetativo. A chuva foi abaixo do esperado até agora, mas é durante o mês de janeiro que não pode faltar água por causa da florada.
– Nós temos uma grande preocupação, que é a parte de florada, que vai acontecer no mês de janeiro. Nessa fase, realmente, não pode faltar chuva. Faltando chuva nesta hora você vai ter uma perda na produtividade. O algodão é uma cultura de seis meses, um ciclo que tem que se ter atenção. Você tem que dar bom dia, boa tarde boa noite.  Não pode arredar o pé da cultura. Senão, com certeza, vai ter perda – diz o técnico agrícola Paulo Cezar Silva.
No Brasil, a queda na área plantada é de 30%. Em Minas Gerais, a redução foi um pouco maior.  E não é por falta de estímulo, pois os produtores mineiros têm incentivos de 7,85% acima do preço Esalq, além do segundo maior parque da indústria têxtil do país. Mas a produção responde apenas por 18% do consumo.
Pela primeira vez em 13 anos, o produtor Luiz Augusto Barbosa não vai produzir algodão. Ele, que no ano passado tinha uma área de 1,2 mil hectares da cultura, fez as contas e decidiu plantar soja e milho para a safra 2012/2013.
– Foi uma decisão difícil, mas as contas não fecham – lamenta Barbosa.
Angelo Munari é presidente da Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa).  Plantou 600 hectares, 140 a menos do que no ano passado, isso por causa da rotação de culturas dentro do planejamento da fazenda.
Munari está com o desafio de incentivar a produção no Estado, principalmente no Triângulo Mineiro, que tem uma logística privilegiada partindo de Uberlândia com algodoeiras que trabalham muito abaixo da capacidade por falta de algodão.  A cultura é chamada pelos produtores de oito ou oitenta.
– Nós da Amipa temos um projeto no norte de Minas que se chama agricultura de sustentabilidade. Ali é plantado o algodão oito que a gente fala. Chamamos assim porque é uma algodão de sustentação de família. Então não tem tanta tecnologia e funciona daquela forma com baixa produtividade. Agora se você quiser entrar para o mundo empresarial do algodão você tem que fazer um algodão oitenta. O que seria isso? É muita tecnologia, muita assistência técnica, muito conhecimento. O algodão, hoje, a gente costuma dizer que é  oito ou oitenta, porque  ele não admite o oitenta meia boca, tem que ser profissional – explica.
Estes altos e baixos da cultura, quando em uma safra reduz e na outra aumenta a área plantada de algodão, têm relação com o mercado e a competição com as commodities. Em 2010, teve o estímulo com preços recordes que passaram de R$ 80 a arroba, atraindo novos investidores e resgatando antigos produtores. No ano seguinte, por exemplo, em Minas Gerais, a área plantada pulou de 25 mil para 35 mil hectares, e agora despencou para 22 mil hectares. E não se trata apenas de preço que se mantém na média histórica, mas é o alto custo e a preocupação com o estoque mundial.
É na China que o estoque não para de crescer. Na hora em que o mercado chinês soltar este algodão no mercado pode haver queda brusca no preço. Para Munari, é difícil entender a estratégia chinesa.
– No mundo, hoje, tem muito algodão, principalmente na China, que é o nosso maior consumidor de algodão. O Brasil tem como foco exportar o algodão para China. Nós estivemos na China agora em uma missão, conversamos, e lá tem muito algodão estocado. A gente não conseguiu entender a estratégia do governo chinês, por que eles estão estocando tanto algodão. Inclusive, eles estão com preço mínimo do algodão a US$ 1,30, que é um preço alto em relação ao mercado mundial que está em torno de US$ 0,70. O próprio produtor chinês da indústria está comprando algodão, importando, e não está comprando da China. É uma estratégia que a gente não conseguiu entender – diz Munari.

FONTE: Canal Rural
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