PLANTAS DANINHAS NO NORDESTE REQUEREM DINÂMICA DIFERENTE DE MANEJOS


Marcelo Pimentel

O manejo das plantas daninhas no Nordeste brasileiro possui uma dinâmica diferente da que é realizada no restante do país. Apesar da maior presença de algumas espécies na Região Nordeste que em outras regiões, os entraves decorrentes das condições para produzir são os maiores desafios a serem enfrentados. A principal razão para a diferença no convívio com as invasoras está nas condições ambientais e nos próprios sistemas de produção.
De acordo com o pesquisador Augusto Costa, da Embrapa Algodão, um exemplo é a dificuldade para formar e manter a cobertura morta sobre o solo como método de controle cultural, frente ao limitado e irregular período de chuvas (especialmente no Semiárido), além das temperaturas elevadas. Por outro lado, quando há disponibilidade hídrica (seja por irrigação ou chuva), o rápido estabelecimento de plantas daninhas, dependendo da espécie e nível de infestação, pode aumentar o risco de competição com a cultura, caso o produtor não esteja atento e atrase o controle, ou não o utilize de maneira correta.
“Muitas vezes, a falta de informação e o baixo nível tecnológico também desfavorecem o estabelecimento dos cultivos, reduzindo suas vantagens competitivas frente às plantas infestantes”, destaca o pesquisador.

Interferência de plantas daninhas

Segundo Costa, em áreas do Semiárido ou Zona-da-Mata, há alguns exemplos de espécies trepadeiras, como as de Jitirana (Merremia spp), que podem se tornar problemáticas dentro do sistema de produção. Quando as infestações destas ocorrem principalmente do meio para o final do ciclo podem prejudicar a operação de colheita ou a qualidade do produto colhido, em culturas com cana-de-açúcar e algodão.
“No caso das áreas de Cerrado, como no Oeste da Bahia, também tem ocorrido outras espécies com biótipos resistentes ou com suspeita de resistência a herbicidas, dificultando seriamente os programas de manejo de plantas daninhas”, aponta.
            Caso o manejo de plantas daninhas não seja realizado, dependendo da situação, as perdas de produção podem atingir mais de 90%. Situação que consegue ainda ser pior quando a interferências das plantas daninhas também afeta outras práticas operacionais, como a colheita, ou prejudica a qualidade do produto, reduzindo seu valor de mercado, outros prejuízos são somados, tornando as perdas financeiras ainda maiores.

Métodos e estratégias

Os custos de controle das invasoras também representam um problema. Para a realização de qualquer prática agrícola, o grande desafio continua sendo a escassez e o elevado custo de mão de obra. Como alternativa, o controle químico é o método mais comum, mas a resistência de plantas daninhas a herbicidas tem aumentado, principalmente quando o uso intensivo é baseado na utilização repetida de alguns produtos, sem maiores preocupações quanto a medidas preventivas a esse problema. Dependendo da situação, as dificuldades resultantes dessa resistência podem elevar substancialmente os custos de controle de plantas daninhas ou mesmo até inviabilizar o cultivo.
No sentido de buscar as melhores opções de controle das invasoras, segundo Augusto Costa, seja em pequena ou grande escala, a tendência mais favorável aos cultivos agrícolas continua sendo integrar estratégias (técnicas) ou métodos de controle.
“Nos casos em que é possível utilizar mais de um método de controle (preventivo, cultural, mecânico ou químico) o produtor estará mais próximo de um sistema de produção que possa ser sustentável. Dentro de cada método de controle, diferentes técnicas também podem ser utilizadas. A seleção de métodos ou estratégias de controle a serem integrados depende da condição da propriedade agrícola, em vários aspectos: nível de infestação e espécies predominantes de plantas daninhas, cultura, situação financeira de quem produz, escala de produção (tamanho da área), disponibilidade de equipamentos, mão de obra, entre outras”, explica.

Pesquisas para o Nordeste

Para o pesquisador, de maneira geral, pode-se dizer que ainda são necessárias muito mais pesquisas voltadas ao manejo de plantas daninhas na condição do Nordeste. Os estudos nessa área para a região são relativamente recentes e tendem a se intensificar, isso pode ocorrer principalmente para a área de Cerrado da Bahia, Piauí e Maranhão. Para a agricultura em menor escala, comum no Semiárido, há necessidade de informações que auxiliem a superar o desafio da falta de mão de obra, principalmente com base no manejo integrado de plantas daninhas.

“Se as novas tecnologias ou recomendações vierem acompanhadas ou inseridas em situações de melhor aproveitamento da água e práticas de conservação do solo, melhor ainda. As condições de solo, disponibilidade de hídrica, sistemas de produção adotados, espécie cultivada, entre outros, devem ser levados em consideração para obtenção de informações que subsidiem o manejo de plantas daninhas mais especificamente para a região”, observa.

II Simpósio sobre Manejo de Plantas Daninhas no Nordeste

Entre os dias 6 e 7 de novembro, acontece o II Simpósio sobre Manejo de Plantas Daninhas no Nordeste, em Campina Grande, PB, o evento será uma oportunidade para a ampliação e aprofundamento das discussões sobre essa área da agricultura. Os assuntos envolverão o manejo em várias culturas importantes para a Região, como frutíferas, cana-de-açúcar, algodão, feijão-caupi, entre outras, além de aspectos dos sistemas de produção e métodos de controle utilizados, como a resistência de plantas daninhas a herbicidas.
Segundo, Costa, o evento contará com a presença de palestrantes da Região Nordeste e demais regiões brasileiras, permitindo integrar experiências. Com isso, a expectativa é poder despertar o interesse dos participantes para o tema, sejam estudantes ou profissionais, favorecendo a atualização do conhecimento e o entendimento das demandas de pesquisa e extensão na área de manejo de plantas daninhas voltados ao Nordeste.


FONTE: Portal Dia de Campo


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