EMBRAPA DIVULGA RESULTADOS INICIAIS DE EXPERIMENTO COM INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA-FLORESTA

Guilherme Viana

       Resultados de um experimento implantado na Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG) com o sistema integração lavoura-pecuária-floresta foram apresentados no final de abril em dia de campo sobre produção de grãos e forragens. A área, implantada em 2009, está formada com o sistema de produção de grãos e forrageiras do gênero Brachiaria, consorciados com eucalipto em três épocas de plantio: 2009, 2011 e 2013. O plantio do eucalipto foi feito em renques simples, utilizando espaçamento de 15 metros entre os renques e de dois metros entre as plantas, totalizando 333 árvores por hectare.
       Entre os renques, foram feitos os consórcios de culturas produtoras de grãos – milho e sorgo – com capins do gênero Brachiaria (Marandu, Xaraés, Ruziziensis, Piatã e Decumbens) até o terceiro ano da implantação do eucalipto (fase silviagrícola). Nas áreas dos eucaliptos plantados em 2009 e em 2011, já foi iniciada a fase silvipastoril, caracterizada pelo consórcio dos capins com a espécie arbórea. O manejo da área seguiu as recomendações de todas as espécies cultivadas no esquema de cultivo exclusivo. Assim, práticas como correção do solo, adubação, tratos culturais e colheita foram realizadas de acordo com as necessidades das culturas envolvidas.
       A preocupação com o uso da madeira para diferentes fins também vem sendo avaliada de forma a proporcionar resultados consistentes com a realidade do produtor, segundo os pesquisadores. Um bom exemplo refere-se à desrama das árvores, realizada nos três primeiros anos, adotando como base a eliminação dos galhos. “Desramamos com o objetivo de propiciar um uso mais nobre para a madeira, em serrarias, e permitir mais entrada de luz, priorizando a produção de grãos e forragem”, explica Miguel Marques Gontijo Neto, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo.
       Na fase silviagrícola é importante que o produtor adote medidas que anulem a possibilidade de degradação da pastagem e mantenha o pasto produtivo por maior período de tempo. Nas áreas experimentais, “a adubação é necessária para que, no futuro, tenhamos uma pastagem produtiva e não degradada”, explica o pesquisador.
       Segundo ele, o sombreamento provocado pelas copas das árvores, além da competição por água e nutrientes, são fatores que devem ser previstos com antecedência. “A partir do terceiro ano de implantação, a fase silvipastoril é a mais indicada. A sombra e a competição por água e nutrientes são limitantes para a produção de grãos. Tanto o desenvolvimento da planta quanto a produtividade de grãos são afetados”, complementa o pesquisador Emerson Borghi, também da Embrapa Milho e Sorgo.

Retorno financeiro

       Alguns dados já demonstram o potencial de viabilidade do sistema ILPF implantado na Embrapa Milho e Sorgo. Em seis anos, a produção de madeira da primeira área atingiu 120 m³ por hectare, “resultado bastante significativo, considerando que a densidade de árvores nesse sistema é bem inferior às populações implantadas em áreas de cultivo exclusivo”, interpreta Borghi (veja a seguir).

Produção de madeira no período de 2009 a 2014
Crescimento anual
(m³ / hectare / ano)
Acumulado
(m³ / hectare)
02/2010
2,4

05/2011
36,3
38,7 m³
05/2012
32,5
71,2 m³
05/2013
29,9
101,1 m³
05/2014
18,9
120 m³

      Para Miguel Gontijo, a rentabilidade do eucalipto no sistema deve ser vista como um investimento que poderá apresentar lucro em médio e em longo prazos. Com esta produção de madeira e tendo como objetivo o corte das árvores para venda como lenha, a receita bruta seria de R$ 4,8 mil por hectare (120 m³ / ha x R$ 40 / m³). Considerando os custos atuais para implantação e manutenção em R$ 2 mil por hectare, o lucro líquido pode chegar a R$ 2,8 mil. “Isso demonstra a viabilidade técnica e econômica do sistema, pois, além do lucro com a exploração da madeira, ainda pode ser computado o grão produzido nos três primeiros anos e a atividade pecuária na sequência”, explica o pesquisador.
       Miguel Gontijo pondera que o produtor deve ter especial atenção a três pontos críticos: saber que o manejo do sistema é mais complexo por envolver mais variáveis (grãos, componente arbóreo e espécie florestal); fazer o controle sistemático de formigas e realizar um planejamento criterioso do mercado, sabendo que a produção será facilmente absorvida. “Na região de Sete Lagoas, por exemplo, isso não é problema, uma vez que há grande concentração de siderúrgicas e consequente demanda por carvão”.

Planejamento é palavra-chave

       O alicerce da ILPF, que é o sinergismo entre os componentes grãos, forragem e madeira, foi um dos tópicos abordados pelo pesquisador Emerson Borghi durante o dia de campo. Segundo ele, uma das grandes vantagens do sistema é a correção da fertilidade do solo de uma maneira econômica, utilizando como base o manejo conservacionista do solo. Bastante utilizado no bioma Cerrado, onde a acidez e a deficiência de nutrientes são características dos solos, a implantação do componente “lavoura” em qualquer modalidade de cultivo em ILPF é alternativa para a produção de grãos no verão e forragem para o período do outono até a primavera.
       “A palavra-chave é planejamento. O produtor deve estar atento às recomendações técnicas, que são idênticas aos cultivos exclusivos, com atenção às fases de correção e adubação do solo, época de semeadura, cultivares e densidades de plantio e controle de pragas, doenças e plantas daninhas”, observa. No sistema da Embrapa Milho e Sorgo, nas três épocas de plantio do eucalipto, foram implantadas as culturas de milho e sorgo, sempre consorciados com os capins, de forma a demonstrar o potencial de produção de grãos e, na sequência, forragem para ser utilizada como pasto no período de outono-primavera.
       Os dados obtidos na produção de silagem de sorgo após 21 meses do plantio do eucalipto chegaram a 6.210 kg por hectare e, mesmo em maio, já sem a presença de chuvas, foi possível obter 3.410 kg/ha de forragem. Na safra seguinte, com 31 meses de implantação do eucalipto, a produção de milho para silagem foi severamente comprometida, produzindo 45% menos silagem quando comparado ao mesmo cultivo sem a presença de árvores. Em função do crescimento do eucalipto e da sombra provocada pelas árvores nas linhas mais próximas dos renques, a produção de grãos também foi afetada, chegando a produzir 67% menos grãos em relação à produção de milho sem a presença de árvores.

Eucalipto plantado em março de 2009


Safra 2010/2011 (Ano 2) – 21 meses
Produtividades
Área total
Área útil
Pleno sol
Produção de sorgo (t / ha de matéria seca)
5,58
4,85
6,56
Produção de capim (t / ha de matéria seca)
1,57
1,36
4,5
Produção de silagem (t / ha de matéria seca)
7,15
6,21
11,06
Produção de capim em 05/2011
3,92
3,41

Safra 2011/2012 (Ano 3) – 31 meses
Produção de milho silagem (t / ha de matéria seca)
7,2
6,26
13,82
Produção de capim (t / ha de matéria seca)
0,68
0,59
1,2
Produção de silagem (t / ha de matéria seca)
7,88
6,85
15,02
Produção de grãos (quilogramas por hectare)
3.750
3.262
9.983

FUTURO – A intenção dos pesquisadores é que a condução do experimento revele novas estratégias de manejo que possam ser avaliadas ao longo do tempo. Estratégias como o desbaste das árvores aliadas a novos modelos de recuperação das pastagens ou a renovação com o cultivo de grãos consorciados com capins mesmo em áreas com mais de seis anos de implantação do eucalipto serão estudadas com a finalidade de avaliar as interações entre as espécies e as variáveis ambientais envolvidas, de forma a subsidiar o produtor em novas possibilidades. “Recuperar ou renovar a pastagem entre os renques após alguns anos? Estamos concentrando esforços para fornecermos subsídios ao produtor para que ele resolva essa questão”, antecipa Borghi.

FONTE: Embrapa Milho e Sorgo
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