Inovações Tecnológicas no Campo

No mundo globalizado em que vivemos, não se pode negar que o campo também necessita de modernização e investimento em tecnologias. O editorial da “Folha de São Paulo” publicado no dia 02 de agosto de 2015, com o título de “Semear Tecnologia” afirmou que o agronegócio avançou porque inovou, diferentemente do setor industrial que anda carente de novas tecnologias e sofre com as políticas equivocadas que retiram a competitividade mundial dos nossos produtos manufaturados.  Eles ainda atribuíram o título de “Peso Pesado” ao dizer que o agronegócio é responsável por quase 25% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e afirmam que apesar do crescimento do mercado de orgânicos e similares, esse ainda permanecerá por um bom tempo como um nicho de mercado restrito e contribuirá nesse ano com uma parcela de apenas 0,2 % do PIB.
Acredito que os editores desse conceituado veículo de comunicação atribuíram o termo “similares” aos diferentes modelos de agricultura ecológica, como a agroecologia, agricultura natural, permacultura, etc. Não é objetivo desse artigo discutir os conceitos que cada modelo de agricultura carrega, pois, certamente os editores desse jornal devem ter pesquisado sobre eles, para afirmar com tal categoria uma contribuição tão baixa desse modelo agrícola ao PIB brasileiro. O fato é que essa informação parece meio contraditória se levarmos em consideração que a agricultura familiar é responsável pela produção de mais de 70% dos alimentos produzidos no país. Acredito que a agropecuária brasileira tornou-se um “Peso Pesado” em relação aos demais setores graças aos diversos modelos agrícolas de produção que implantamos de norte a sul do nosso país.
Não precisamos de inovação tecnológica apenas para produzir em larga escala. Precisamos de inovações tecnológicas para superar os desafios de trabalhar no campo em regiões montanhosas como as regiões Sul e a Zona da Mata Mineira. Precisamos de tecnologias para aumentar a produtividade nos solos arenosos e pedregosos do Vale do Jequitinhonha e do norte de Minas. Precisamos de tecnologia para a agricultura familiar, com preço acessível, que tenha viabilidade econômica e que seja de fácil utilização para que, de fato, não tenhamos que abrir novas fronteiras agrícolas.
A palavra “Tecnologia” nos remete ao mundo digital, sensoriamento remoto, softwares, novas máquinas e equipamentos, mas não é só isso. A informatização das propriedades rurais e a modernização dos sistemas de produção são importantes para o avanço da agropecuária, mas a Inovação Tecnológica vai muito além...
Os agricultores, muitas das vezes, saem na frente da pesquisa com sua criatividade, procurando alternativas que facilitem a sua lida no campo. Em Minas Gerais, por exemplo, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG) realiza o Prêmio de Criatividade Rural. Na última edição que aconteceu em 2013, tiveram 46 projetos inscritos e o vencedor foi o jovem produtor Sander Emérico Marcial, do município de Perdigão-MG que criou um Semeador de Cenoura Manual. No dia 31 de julho de 2015, o programa Nosso Campo apresentou uma reportagem onde um produtor rural do município de Tanabi-SP inventou seu próprio trator utilizando o motor de uma moto antiga e diversas sucatas. Até a esposa dele se surpreendeu com a invenção, que tem até radio!
Há muito conhecimento espalhado pelas propriedades rurais do nosso país. A criação de um método diferenciado de cultivo, um processo de produção de mudas, um tratamento de sementes caseiro, a criação de um fertilizante alternativo, um manejo ecológico de praga ou doença, tudo isso é inovação para o mundo rural. Os pesquisadores e técnicos precisam aprender a olhar de maneira diferente para o campo e valorizar os saberes locais. As inovações tecnológicas muitas vezes podem vir de dentro da porteira para as Universidades e Instituições de Pesquisa.
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