PRODUTOR RURAL: VILÃO OU HERÓI?


Eduardo Allgayer Osório
Engenheiro agrônomo, professor titular aposentado da UFPel,
Diretor da Associação Rural de Pelotas (ARPel)

O Brasil está colhendo a maior safra da sua história, gerando uma renda de R$ 300 bilhões que se espalhará pelos quatro cantos do país, movimentando os mais variados setores do comércio, da indústria, dos serviços e do entretenimento. Nesse ritmo, estima-se que logo o país ocupará o posto de maior fornecedor de alimentos do planeta (hoje lideramos o comércio mundial de cinco dos dez principais produtos agropecuários: soja, café, açúcar, laranja, carne de frango e bovina). Tal sucesso vem sendo aplaudido internacionalmente, tornando-se o país uma referência mundial. E para isso utiliza menos de 30% do seu território, preservando o restante da área nacional com sua cobertura vegetal intocada.
No espaço de uma década a colheita brasileira dobrou, das 83 milhões de toneladas de grãos colhidas em 2001 para as atuais 185 milhões, tendo a área cultivada aumentado apenas 33%, ou seja, o que cresceu foi a produtividade (o milho, que na década de 1970 rendia 1.200 kg/ha hoje produz mais de 4.000 kg/ha). Para tal muito contribuíram os avanços colhidos na genética das sementes, no uso de modernas técnicas de cultivo, no desenvolvimento de insumos e equipamentos mais eficientes, na evolução das práticas de manejo, no uso de métodos administrativos inovadores e num pujante empreendedorismo. Vista no passado como atrasada, a atividade rural evoluiu a ponto de ser hoje a que mais incorpora tecnologia e investe na qualificação de mão de obra, pondo em dúvida se deva continuar sendo chamada de primária, tal a complexidade de processos que incorporou. A adoção de cultivares com genes de autodefesa contra pragas e invasoras reduziu enfaticamente o emprego de agrotóxicos, nocivos à saúde, permitindo colher alimentos mais saudáveis. Cultivares transgênicas, tão condenadas pela mídia desinformada, possibilitam o plantio direto, sem o revolvimento do solo, reduzindo drasticamente as perdas por erosão. E mesmo o estereótipo, tão festejado, de país com uma matriz energética "limpa" das emissões de carbono, recebe do agronegócio um decisivo suporte na produção do etanol e do biodiesel.
Em 2012 o saldo da balança comercial brasileira foi de US$ 20 bilhões, alcançando as exportações agropecuárias um superávit de US$ 80 bilhões, ou seja, o agronegócio cobriu um déficit de US$ 60 bilhões gerado por outros setores da economia, que "patinam" (não fossem os saldos da exportação de produtos agropecuários estaria o Brasil tão endividado quanto alguns países da Europa). E tudo isso é conquistado sem prejuízo da segurança alimentar interna, garantindo o alimento na mesa do brasileiro.
Para auferir resultados tão auspiciosos, afora as naturais dificuldades do processo produtivo, o produtor rural necessita enfrentar a mais rigorosa legislação ambiental existente entre países produtores de alimentos; condições logísticas (de transporte da safra e outras) extremamente deficientes; uma legislação trabalhista anacrônica e uma taxação tributária sufocante. Apesar desses entraves, continua competindo em nível mundial e vencendo o jogo. Não obstante vem sendo repetidamente taxado, em expressivos segmentos da mídia, como um vilão, tendo sua reputação manchada perante a opinião pública. É justo?

FONTE: Diário Popular
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