FEIJÃO CHINÊS GANHA ESPAÇO NA MESA DO BRASILEIRO


Nestor Tipa Júnior

Com a queda de produção nacional de feijão nos últimos anos devido ao avanço de outras culturas, como a soja, o Brasil amplia as importações do produto. Nesse cenário, a China aumenta em ritmo acelerado a participação no mercado nacional, mesmo no prato mais típico da mesa brasileira.
Enquanto em 2009 os chineses enviaram 11,63 mil toneladas de feijão para o Brasil, só até setembro deste ano o volume de importação, conforme o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, foi de 100,5 mil toneladas do grão. Os argentinos, porém, ainda lideram com 101,3 mil toneladas do produto importado nos primeiros nove meses do ano.
Conforme o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, o preço está entre os fatores que motivaram essa alta nas importações do produto chinês. No ano passado, o valor da saca de 60 quilos vinda da China era de R$ 60, enquanto no Brasil, custava R$ 85. Além disso, a qualidade do grão asiático melhorou nos últimos anos.
– Hoje, os preços pagos pelo feijão chinês chegam a R$ 130 a saca, pois o produto se valorizou em razão da demanda maior por causa da queda da produção, não só no Brasil, mas em todo o mundo, devido à troca do feijão por outras culturas, como soja – diz Brandalizze.
Especialistas avaliam ainda que houve reação no consumo per capita do produto nos últimos anos – em 2005, era 12,8 quilos por habitante e, em 2011, chegou perto dos 18 quilos. Só a produção nacional não será suficiente para atender ao consumo.
– A produção de feijão na última safra ficou abaixo dos três milhões de toneladas no país, enquanto o consumo neste ano está estimado em 3,7 milhões de toneladas – afirma o analista da Correpar Corretora e consultor da Câmara Setorial do Feijão, Marcelo Lüders.
Neste ano, o Brasil já importou 233,5 mil toneladas de feijão, ante 207 mil toneladas de 2011. A situação se reflete no preço ao consumidor. Conforme a Fundação Getulio Vargas (FGV), o feijão teve alta de 40,32% nos últimos 12 meses para o consumidor de Porto Alegre.
– Isso se deve à redução de oferta, tanto por causa da diminuição de área plantada quanto pela quebra de safra causada pela seca – destaca o coordenador do escritório regional do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, Márcio Mendes Silva.
Para os produtores, o mercado não é tão atraente quanto o da soja, em que há demanda por exportações e pela venda antecipada do grão. Além disso, pouco se avançou em tecnologia na cultura, o que não permitiu grande aumento de produtividade, segundo Dulphe Pinheiro Machado Neto, gerente técnico da Emater:
– Em 1970, foram colhidos 259 mil hectares com produtividade de 943 quilos por hectare. Hoje, mal passamos de mil quilos por hectare.

FONTE: Zero Hora
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