Em meio à
poluição atmosférica recorde que assola a China, o país enfrenta outra crise
ambiental pouco conhecida e praticamente invisível: a contaminação do solo por
nitrogênio. Segundo um estudo publicado pela revista Nature, a poluição por
nitrogênio aumentou 60% em 30 anos no país, o que representa uma ameaça para os
ecossistemas e a saúde humana.
Dentre as
diversas formas de nitrogênio presentes no meio ambiente, a principal
preocupação dos pesquisadores é com a amônia (NH3) e o nitrato (NO3).
O acúmulo
dessas substâncias na natureza deriva principalmente do uso indiscriminado de
fertilizantes sintéticos, além das emissões causadas pelo transporte e
indústria.
Em
alta concentração, esses poluentes podem levar à perda da biodiversidade,
reduzir o crescimento das plantas, poluir o lençol freático e acidificar o
solo. Desde 1990, a
China tornou-se o maior consumidor de fertilizantes nitrogenados do mundo que,
apesar de ajudarem no crescimento rápido do cultivo, aumentando a oferta de
alimentos, também poluem e deterioram o solo quando usados de forma
indiscriminada.
A pesquisa aponta
que a deposição de nitrogênio no solo do país subiu anualmente 8 kg por cada 10 mil m² de
terra entre 1980 e 2010. Grosso modo, o nutriente que serviu de pilar da
“Revolução Verde” na agricultura, está se tranformando em um verdadeiro vilão
ambiental.
Transporte e indústria – Outra
constatação do estudo é que as emissões de óxido de nitrogênio provenientes dos
transportes e da indústria estão aumentando mais rápido do que as emissões de
amoníaco da agricultura.
Desde os anos
1980, o uso de fertilizantes nitrogenados dobrou, ao passo que consumo de
carvão aumentou mais de três vezes e o número de veículos a motor, mais de 20
vezes.
“Se as
tendências atuais persistirem, as emissões de amônia vão aumentar 85% até 2050
e as emissões de óxido de nitrogênio vão subir mais de oito vezes. O impacto
será impensável”, diz Fusuo Zhang, pesquisador da China Agricultural
University, em Pequim, e co-autor do estudo.
Mundialmente a
cada ano, cerca de 140 milhões de toneladas de nitrogênio são despejadas no
meio ambiente. Segundo previsões do cintistas, esse número deverá aumentar em
70% até 2050, quando as economias emergentes da América Latina e do Sul da Ásia
começarão a padecer do mesmo mal que a China enfrenta hoje.
Ameaça silenciosa – O maior empecilho
para combater este problema crescente é o fato de se tratar de uma poluição
silenciosa e invisível. Diferentemente da fuligem escura gerada pelo transporte
e indústria ou ainda, de um vazamento de petróleo, que deixa sua marca no
local, a poluição por nitrogênio é praticamente imperceptível aos olhos – ainda
inda que tenha o poder de desestabilizar os processos naturais, entre outros
efeitos negativos ainda em estudo.
Por esse
motivo, a poluição por nitrogênio acaba sendo pouco reconhecida como um
problema ambiental, dizem os cientistas, já que é difícil conectar o problema à
fonte. Um passo simples no sentido de reduzir a poluição por nitrogênio seria
os agricultores começarem a usar de forma mais eficiente os fertilizantes
sintéticos, já que estes são reconhecidos mundialmente como a principal fonte
do problema.
FONTE: Revista Exame