A
perda de biodiversidade é a ameaça real mais importante enfrentada pela
humanidade hoje, ocorre de forma rápida em todos os lugares do planeta, em um
momento de grandes mudanças climáticas globais e de forte pressão para aumentar
drasticamente a produção de alimentos a fim de atender ao crescimento da
população mundial.
O
alerta foi feito por Zakri Abdul Hamid, presidente da Plataforma
Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistemas (IPBES, na
sigla em inglês), na quinta, dia 11, na abertura da Reunião Regional da América
Latina e Caribe do organismo intergovernamental independente. Criado
oficialmente em abril de 2012, o IPBES tem por objetivo organizar o
conhecimento sobre a biodiversidade no mundo para subsidiar decisões políticas em
âmbito mundial.
De
acordo com o pesquisador, um dos principais desafios que o IPBES terá de
enfrentar agora, depois de oito anos de negociações internacionais para ser
implementado, é chamar a atenção do mundo para o problema do declínio da
diversidade de espécies de plantas e de animais em todo o planeta, que alguns
cientistas chamam de “o sexto grande episódio de extinção na história da
Terra”.
Segundo
dados apresentados por ele, cerca de 75% da diversidade genética de culturas
agrícolas foi perdida no último século. Um dos fatores responsáveis por isso
foi o cultivo, por agricultores de todo o mundo, de variedades geneticamente
uniformes e de alto rendimento e o abandono de muitas variedades locais.
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Existem 30 mil espécies de plantas, mas apenas 30 culturas são responsáveis por
fornecer 95% da energia fornecida pelos alimentos consumidos pelos seres
humanos; a maior parte delas (60%) se resume a arroz, trigo, milho, milheto e
sorgo – afirmou o pesquisador.
Já
entre os animais, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e Alimentação (FAO) apresentados por Hamid, aproximadamente 22% das
raças bovinas no mundo estão em risco de extinção. Alguns dos motivos para isso
é que as características dessas espécies não atendem às demandas atuais dos
pecuaristas ou porque suas qualidades não foram reconhecidas.
Muitas
dessas raças nativas, de acordo com a FAO, são adaptadas a condições ambientais
desfavoráveis, possuem material genético importante para programas de
reprodução e são meios de subsistência de muitas famílias carentes no mundo,
uma vez que são mais fáceis de serem mantidas do que as raças exóticas,
mencionou o pesquisador. Além disso, em um mundo ameaçado pelas mudanças
climáticas, algumas dessas raças são mais resistentes a secas, calor extremo e
doenças tropicais.
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A perda de diversidade genética de animais domésticos reflete a falta de visão
geral do valor de raças nativas e de sua importância na adaptação às mudanças
climáticas globais. Isso é consequência de incentivos à promoção de raças mais
uniformes e da seleção focada de produtos agropecuários – disse Hamid.
Para
tentar minimizar o risco de desaparecimento tanto dessas espécies de animais
como de plantas, é preciso criar, cada vez mais, bancos de germoplasma (unidades
de conservação de material genético de uso imediato ou com potencial uso
futuro), apontou Hamid, que é assessor de Ciência do primeiro-ministro da
Malásia e participou das negociações da Convenção sobre a Biodiversidade
Biológica (CDB), estabelecida em 1992, durante a ECO-92.
Na
esfera política, de acordo com o pesquisador, um dos maiores desafios é
informar e capacitar os tomadores de decisão a agir de forma a reverter o
problema da perda de biodiversidade existente no mundo hoje. Para isso, o IPBES,
que foi inspirado no modelo de atuação do Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), pretende não só gerar
informações sobre biodiversidade aos formuladores de políticas públicas no
mundo, como também realizar programas de capacitação profissional de tomadores
de decisão sobre o assunto.
A
Reunião Regional da América Latina e Caribe do IPBES, realizada pela Fapesp,
discutiu formas de integrar profissionais e instituições de pesquisa da América
Latina e do Caribe que atuam na área da biodiversidade, para a produção de
diagnósticos regionais que comporão um relatório sobre a biodiversidade em
nível global. Os documentos conterão as particularidades dos países da região,
que acumulam um terço da biodiversidade do planeta e o conhecimento tradicional
de povos indígenas e pré-colombianos.
FONTE:
Agência Fapesp