A consultoria
Datagro divulgou no dia 18 de julho de 2014, a atualização das projeções para a safra
2014/2015 da indústria sucroenergética brasileira. A empresa anunciou que
espera colheita de 616,5 milhões de toneladas de cana-deaçúcar na atual safra.
O volume representa queda de 5,5% ante o volume registrado na safra anterior.
Segundo a consultoria, a seca e a política governamental que incentiva o
consumo de gasolina estão por trás dos números.
Os números
apresentados pelo presidente da Datagro, Plinio Nastari, durante o 3º Encontro
do Açúcar e Etanol, realizado em Londres, mostram que a colheita brasileira de
cana-de-açúcar deve somar 560,5 milhões de toneladas no Centro-Sul e 56 milhões
de toneladas no Norte e Nordeste do País na safra 2014/2015.
De acordo com
as estimativas da Datagro, o Brasil deve produzir 35,75 milhões de toneladas de
açúcar no atual período, montante 4,9% menor que o registrado na safra
2013/2014, dos quais 32,3 milhões de toneladas no Centro-Sul e 3,45 milhões de
toneladas no Norte/Nordeste. A produção de etanol deve cair ainda mais que o
açúcar na atual safra: somará 25,29 bilhões de litros, volume 8% inferior ao
visto no período anterior. Desse volume, 23,39 bilhões de litros deverão vir do
Centro-Sul do Brasil e 1,9 bilhão de litros do Norte/Nordeste.
O índice de
Açúcares Totais Recuperáveis (ATR), que mede a quantidade de açúcares na cana,
deve ficar em 131,09 kg
por tonelada de cana no Brasil na atual safra, sendo que o indicador deve somar
131,90 kg/ton no Centro-Sul e 123 kg/t no Norte/Nordeste.
Gasolina mais barata
A queda da
produção de cana, açúcar e etanol no Brasil na safra 2014/2015 é resultado
especialmente do clima adverso e da política governamental de preços que
favorece o consumo da gasolina. A avaliação foi feita por Nastari. Para o
especialista, o setor também sofre com efeitos negativos provocados pela crise
econômica e há impacto operacional do aumento da mecanização da cultura no
país.
– O Brasil
enfrenta um período muito seco. Isso acontece desde agosto não só em São Paulo , mas em boa
parte do Centro-Sul do Brasil. Essa seca traz consequências não apenas para a
cana-de-açúcar, mas também para outras culturas como o café e a geração
hidrelétrica – disse Nastari. Além do clima, Nastari atacou duramente a
política de preços do governo brasileiro para o setor energético.
– O Brasil tem
uma política pública distorcida de preços que subsidia o preço da gasolina para
os consumidores e não para o transporte público. Além disso, a Contribuição de
Intervenção no Domínio Econômico (Cide) foi reduzida para zero na gasolina e o
Banco Central incentiva a valorização do real, o que estimula a importação do
combustível – disse.
O dirigente
defendeu que a política de preços adotada pelo governo brasileiro,
especialmente pela Petrobras, faz com que o preço da gasolina atualmente no
Brasil seja 17,99% menor do que a média nos Estados Unidos. Os preços são
aqueles praticados pelas refinarias e foram comparados entre 1º e 11 de julho
de 2014, segundo dados apresentados por Nastari.
Nastari também
comentou que a produção brasileira ainda é prejudicada pelos efeitos negativos
no setor financeiro desde a crise de 2008 e há impacto operacional do aumento
da mecanização em algumas áreas produtoras brasileiras.
Correção de preços
O presidente
da Datagro aposta que a política de preços dos combustíveis, especialmente da
gasolina, começará a mudar após as eleições presidenciais de outubro.
– Após as
eleições presidenciais, esperamos o aumento dos preços da gasolina e início da
correção dos valores. Podemos ter a safra 2015/2016 mais orientada para o
etanol. Esperamos recuperação dos preços do biocombustível em 2015/2016 –
disse.
Confirmado um
cenário mais competitivo para o combustível renovável, o especialista prevê
retomada da confiança de empresários e investidores.
– Só o fim dos
subsídios será capaz de trazer os investimentos de volta. É preciso ter a
sensação de que não haverá mais risco de intervenção do governo – reforça.
Nastari
comentou, ainda, que é possível observar interesse de investidores, que
estariam, apenas, à espera de um sinal positivo para retornar ao Brasil.
– Estamos
vendo o capital de risco esperando um sinal de menor interferência estatal para
voltar a investir – concluiu.
Estimativa da Copersucar
A Copersucar,
maior trading de açúcar e etanol do mundo, reduziu nesta sexta, dia 18, sua
estimativa para a safra de cana 2014/2015 no Centro-Sul do Brasil em cinco
milhões de toneladas, para 565 milhões de toneladas. A revisão foi feita ao The
Wall Street Journal pelo presidente do conselho da companhia, Luis Roberto
Pogetti, que não afasta a possibilidade de uma moagem ainda menor. Em
2013/2014, a região processou 596 milhões de toneladas.
A expectativa
da empresa é de que sejam produzidas 32 milhões de toneladas de açúcar e 24,6
bilhões de litros de etanol, dos quais 22 milhões de toneladas de açúcar e 1
bilhão de litros de etanol para exportação. Em sua estimativa anterior, a
Copersucar projetava produção de 32 milhões de toneladas de açúcar e 25,4 bilhões
de litros de etanol.
Pogetti, que
participa de evento do setor sucroalcooleiro em Londres, avalia também que o
mercado global de açúcar deve registrar um déficit de três milhões de toneladas
na safra 2014/15, que se inicia em outubro. Em 2013/2014, o cenário foi de
excedente. Para o executivo, o mercado ainda não assimilou todos os efeitos da
severa estiagem no Brasil nos meses de janeiro e fevereiro. A seca atingiu em cheio São Paulo ,
maior Estado produtor do País, justamente no momento de desenvolvimento dos
canaviais. O Brasil responde por cerca de 20% de toda a oferta global de
açúcar.
Pogetti
comentou, ainda, que o Terminal Açucareiro da Copersucar (TAC) em Santos (SP)
já retomou a capacidade anualizada de embarque de 4 milhões a 5 milhões de
toneladas. A expectativa é de que até o fim do ano o TAC opere novamente com
capacidade para movimentar 10 milhões de toneladas ao ano, volume que era
registrado antes do incêndio ocorrido em outubro de 2013.
FONTE: Estadão
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