O caminho de
aproximadamente 400
quilômetros entre Luanda, capital de Angola, e a
província de Malanje revela muito da realidade do país. Casas precárias pela
beira da estrada, comércio informal a céu aberto e muita pobreza. Em meio a
este cenário, belezas naturais recompensam os olhos, como as pedras negras,
formações rochosas que hoje dividem espaço com 7 mil hectares de canaviais.
Eles fazem
parte do complexo Biocom, a primeira companhia de bioenergia de Angola, no
município de Cacuso. Uma parceria entre a Odebrecht, o grupo angolano Cochan e
a estatal de petróleo Sonangol. O principal foco do empreendimento é a produção
de açúcar para abastecer mercado nacional.
– Angola já
teve a tradição do açúcar. Hoje, importa 100% da sua necessidade. Pela
importância disso em relação à segurança alimentar, entendemos ser um segmento
importante para investimento – comenta o diretor geral da Biocom, Carlos
Henrique Mathias.
Para chegar a
uma produtividade média de 70 toneladas de cana por hectare, foi preciso muito
trabalho. A correção do solo exigiu grandes investimentos.
– Tudo iniciou
em cima da área de preparo de solo bastante pesada, que hoje não existe mais no
Brasil. A gente teve que retirar todo o material lenhoso dessas. Como mais de
70% da nossa área é arenosa, depende bastante de fazer as adubações de correção
– explica o diretor agrícola da Biocom, Alécio Cantalogo Júnior.
Outra dificuldade
foi encontrar variedades de cana-de-açúcar que se adaptassem bem às condições
de clima e solo da região.
– Quando nós
chegamos aqui, tinha apenas quatro variedades, sendo duas indianas e duas
brasileiras. Hoje nós estamos com um total de 25 variedades sendo testadas para
fazer as multiplicações. Até o momento conseguimos identificar três variedades
que estão se adaptando melhor aqui na região – completa Júnior.
Em 2014, 2,8
mil hectares de cana estarão prontos para serem colhidos. Até 2019, a área plantada deve
subir para 36 mil hectares. Nesta primeira safra, que começou em agosto e
termina em outubro, devem ser colhidas 160 mil toneladas de cana, que na
indústria vão se transformar em 18 mil toneladas de açúcar, 3 milhões de litros
de etanol e 120 gigawatts de energia.
Apesar do
treinamento vir do Brasil, a mão de obra é praticamente toda angolana. Amélia
Fernanda Mateus, que há pouco mais de um ano foi a primeira mulher a operar uma
colheitadeira no país, hoje é líder de uma das frentes de colheita.
– São
equipamentos que nós nunca vimos. Quando me deparei com máquinas que nunca
tinha visto na vida, foi incrível. Já
faz um ano que estou como líder e sou respeitada – comenta Amélia.
Uma
oportunidade de emprego para 2 mil pessoas da região, que trabalham para
produzir o que vão consumir em breve.
FONTE: Estela Facchin | Cacuso (Angola) – Canal Rural