Solos: A maravilhosa obra do Intemperismo

As Organizações das Nações Unidas sempre atribuem uma determinada temática para ser discutida e trabalhada anualmente pelas comunidades científicas mundiais e também para a reflexão da população acerca de tal assunto. Em 2015 será celebrado o “Ano Internacional dos Solos” que é um tema que vem para complementar diversos assuntos que estão sendo discutidos desde o início de 2014 quando foi celebrado o “Ano Internacional da Agricultura Familiar”.
Estamos em contato com o solo a todo o momento, em todos os lugares e muitas das vezes não damos conta da sua importância. Observe ao redor do local onde você está sentado nesse momento, tudo que está a sua volta foi retirado direta ou indiretamente do solo, até mesmo a roupa que está vestindo.
O solo é fundamental para a sobrevivência do ser humano desde os primórdios quando ele era nômade. Os alimentos que eram encontrados nas florestas e matas pelos homens das cavernas foram produzidos graças à fertilidade natural de cada solo, em cada região. O solo é uma maravilhosa obra de arte, feita pelas mãos da natureza.
O início de toda essa obra de arte está na rocha, que é conhecida pelo agricultor como pedra. Isso mesmo! A pedra é a mãe de todos os solos e assim como existem diversas pessoas espalhadas pelo mundo, existem muitos solos diferentes, cada um com a sua peculiaridade, cada um com a sua “genética” expressando o “fenótipo” da rocha-mãe. Intemperismo é o nome que damos ao processo de formação dos solos. A rocha vai sendo degradada por meio da ação de fatores físicos, químicos e biológicos.
Quando a camada litólica está exposta superficialmente, as rochas sofrem a ação das temperaturas do ambiente que pode causar contrações e expansões dos minerais constituintes, levando à criação de rachaduras e fendas ou mesmo a divisão de pequenos fragmentos de rochas. A ação da água é outro importante fator de formação do solo, pois, ela tem a capacidade de adentrar em rochas de caráter mais poroso, penetram nas rachaduras e fendas das rochas e promovem a desintegração e carreamento de partículas para a formação dos solos. Os ventos também podem atuar na degradação da rocha e carrear partículas para a formação do solo.
A biota local também é importante no processo de intemperismo. Os liquens, alguns fungos e bactérias, de modo geral, são sempre os primeiros colonizadores de uma rocha em degradação. Quando o intemperismo está mais avançado é possível observar o surgimento de uma macrofauna mais rica no solo que está em formação, além da presença de plantas com maior porte. Esse processo, no entanto, é muito lento. Estima-se que a cada 200 anos seja formado apenas um centímetro de solo fértil. Por isso, é importante conservar e proteger nossos solos agrícolas.
O Brasil é um país privilegiado, pois, além de possuir uma grande quantidade de solos agricultáveis, tem clima favorável para o cultivo de plantas durante todo o ano. A classe de solos conhecida como Latossolos está amplamente distribuída pelo território nacional e tem uma grande importância, principalmente pelas suas características físicas.
Os Latossolos são encontrados em relevo que varia de suave ondulado à planícies, são solos profundos, com estrutura granular estável, bem drenados, naturalmente ácidos, pobres em nutrientes (distróficos) e matéria orgânica, por serem muito intemperizados. Esse tipo de solo apresenta perfil bastante homogêneo em relação à estrutura física e coloração e são caracterizados pela presença de horizonte B latossolico, com argilas de baixa atividade do tipo 1:1. Em relação à textura, podem ser encontrados Latossolos desde arenosos até muito argilosos.
De acordo com dados da Embrapa, esta classe de solo ocupa cerca de 46 % da área de Cerrados, 40 % da superfície Amazônica brasileira, 40 % das áreas de Araucárias do Sul do país e 28 % do bioma Mata Atlântica. Além disso, cerca de 21 % da região semi-árida é composta por Latossolos.
A maior parte da agricultura empresarial brasileira está sobre os Latossolos, principalmente, nas áreas de Cerrado e Mata Atlântica, onde as lavouras de café, milho, soja, algodão e cana-de-açúcar assumem extensões a perder de vista. Outras classes de solos como os Argissolos, Nitossolos e Neossolos Quartzarênicos são muito importantes em termos agrícolas.

O solo é o maior patrimônio que um agricultor tem em suas mãos, por isso, o planejamento quanto ao seu uso agrícola e ocupação com benfeitorias deve ser elaborado de maneira rigorosa. A sustentabilidade de produção agrícola não deve ser apenas uma filosofia, mas deve ser uma atitude prática. É preciso enxergar o solo como o grande promotor da vida e um armazenador de bens preciosos como a água e os nutrientes que serão disponibilizados para as culturas. Portanto, é o momento de aproveitar os debates que serão promovidos ao longo do “Ano Internacional dos Solos” e conscientizar-nos da importância de conservar e manejar adequadamente um sistema que é a base para a vida de todos os seres vivos do planeta.

FONTE: Revista Agron - Janeiro de 2015
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