JOVEM DESENVOLVE MÁQUINA PARA COLHEITA DE FUMO NO RIO GRANDE DO SUL


Vanessa Kannenberg

A soma de peças sucateadas, o motor de motocicleta e a experiência no campo resultou em facilidade, conforto e agilidade na hora de colher tabaco em uma propriedade do município de Venâncio Aires, no Rio Grande do Sul. A origem da equação saiu da cabeça de um jovem, então com 14 anos, que construiu uma máquina para melhorar as condições da etapa mais estressante do cultivo de fumo. A engenhoca já foi apresentada em feiras de todo o país.
Tradicionalmente manual, a colheita provoca desgaste físico, principalmente nas lavouras de fumo tipo estufa, em que o processo é feito em sucessivas apanhadas.
– Vivendo essas dificuldades na pele, e vendo meus pais se queixarem de dor nas costas, cansaço e calor, me perguntei: tem de haver algum equipamento que possa ajudar – conta Fábio Ferreira Faleiro, hoje com 16 anos.
A inquietação, compartilhada com o vizinho Cristian da Rosa Wilges, 31 anos, começou a se transformar em rabiscos de uma engenhoca em outubro de 2010.
– Eu tinha a ideia e, ele, a experiência com máquinas e com o campo. A primeira versão ficou pronta um mês depois – recorda Faleiro.
A estrutura foi desenvolvida com materiais reaproveitados. Medindo três metros de altura, 1,5 metro de largura e 2,25 metros de comprimento, a engenhoca foi sendo melhorada e, neste ano, já ajuda na terceira safra dos Faleiro, que devem colher 70 mil pés de fumo. Na primeira reforma, ganhou um toldo removível.
– Quero colocar direção hidráulica, marcha a ré, pneus de trator e tração nas rodas da frente – acrescenta Fábio.
Movida a gasolina, a máquina pode levar até três pessoas, além do motorista. Retirado de uma moto, o motor de 125 cilindradas foi acoplado à máquina e modificado para reduzir a velocidade – entre meio e um quilômetro por hora. A engenhoca tem cinco marchas, embreagem, quatro pneus de carro e tração traseira. Os pneus traseiros foram revestidos com correntes, aumentando a aderência ao solo. Faróis garantem luz a colheitas noturnas.
– Acho que não vai demorar para todo mundo ter uma dessas máquinas em casa – projeta o pai de Fábio, Sidinei Faleiro.
Gerente técnico da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Iraldo Backes conhece o invento e confirma a efetividade da máquina. No entanto, acredita que é específica.
– Funciona, e bem, naquele local, porque é totalmente plano. Mas em locais íngremes, não daria certo. Precisaria de pesquisas e aprimoramento para alcançar mais produtores.

Uma engenhoca de vantagens

Chamado de Máquina Auxiliar no Cultivo do Tabaco, o equipamento tem uma série de benefícios:
Baixo custo: o criador da máquina calcula que tenha gasto em torno de R$ 4,5 mil para construí-la. O valor se refere à compra de materiais sucateados, já que o motor ele tinha em casa e a mão de obra não teve custo.
Evita desgaste físico: a engenhoca facilita o trabalho porque leva os produtores sentados, evitando o desgaste físico de ter que se abaixar para colher as folhas e as consequentes dores na coluna e cansaço.
Mais agilidade: cálculos da família Faleiro indicam que o uso do equipamento deixa a colheita 50% mais rápida. Enquanto três pessoas a pé retiram cerca de 400 varas de fumo por dia, com a máquina são 600 varas (equivalente a uma fornada).
Econômica: a engenhoca consome, em média, 0,75 litro de gasolina durante um dia inteiro de trabalho na lavoura.

FONTE: Zero Hora
Matérias assinadas ou com indicacação de fontes são de responsabilidades dos autores, não expressando opiniões ou ideias do Brasil Agrícola.