O produto
interno agrícola no Brasil cresceu em média 3,7% ao ano entre 1970 e 2010
principalmente graças ao aumento da produtividade conseguida com a evolução da
tecnologia no campo. Entretanto, pesquisa da Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, demonstra que se não houvesse
restrições no investimento em capital físico (máquinas e implementos) no
período, o crescimento acumulado no período poderia ter sido 27% maior. A
conclusão faz parte da tese de doutorado do economista Cassiano Bragagnolo,
orientada pelo professor Geraldo Sant'Ana de Camargo Barros, da Esalq. O estudo
verificou os fatores que influenciaram o crescimento do produto agrícola nas
últimas quatro décadas.
– Foram
analisadas, entre outros, a evolução da produtividade, da área plantada e do
capital físico. O capital físico inclui recursos produtivos, como máquinas,
implementos e benfeitorias, sem considerar a terra nem insumos como sementes e
adubos – diz Bragagnolo.
Ao analisar a
situação de cada Estado brasileiro, a pesquisa verificou que o principal fator
que levou ao aumento de produtividade foi o progresso tecnológico.
– Entre 1975 e
2005, a
média anual de crescimento da tecnologia agrícola foi de 4,3% ao ano, superior
ao próprio produto agrícola, que cresceu 3,7% na média anual – ressalta o
economista.
De acordo com
Bragagnolo, nos Estados com maior tradição na agricultura, como os que compõem
as regiões Sul e Sudeste, o crescimento foi menor, pois já havia uma base
tecnológica.
– Nas regiões
de fronteira agrícola, nos Estados do Norte e Centro-Oeste, houve um aumento
maior do progresso técnico, que tornou possível tanto a expansão da área
cultivada quanto da produtividade.
Histórico
Ao verificar a
evolução histórica da produção agrícola, o estudo aponta que na década de 70 do
século passado, o investimento em capital físico era alto.
– Isto
propiciou um aumento da área plantada devido a possibilidade de incorporação de
novas terras à agricultura, o que permitiu elevado crescimento do produto, apesar
de um crescimento da produtividade moderado – afirma o economista.
De meados da
década de 80 até o final dos anos 90,
a produtividade cresceu, garantindo o aumento
quantitativo da produção, mas ao mesmo tempo houve uma estagnação do capital
físico e da área cultivada.
– Nesse
período começam a surgir preocupações ambientais que levaram a redução da
expansão da fronteira agrícola no Norte e no Centro-Oeste, que aliados ao baixo
investimento limitaram o potencial de crescimento do setor – observa Bragagnolo.
A partir do ano 2000,
a produtividade e a área cultivada se mantém estáveis.
– No entanto,
o capital físico volta a ser determinante, com o aumento dos investimentos na
agricultura, que asseguram a elevação da produção – ressalta o economista. Segundo
ele, nas últimas quatro décadas, apesar de problemas momentâneos, como quebras
de safra, a tendência sempre foi de aumento do produto interno agrícola.
Diante das
limitações de capital físico apresentadas pelo setor agrícola em alguns
períodos, a pesquisa calculou qual seria o crescimento do produto agrícola se
houvesse crédito suficiente para um investimento constante.
– A simulação
mostrou que o produto interno agrícola poderia ter sido 27% maior ao longo do
período – conclui Bragagnolo, que é pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada
(Cepea) da Esalq.
FONTE: Agência USP